“Era o dia do aniversário de 1 ano do meu filho e eu fui trabalhar… eu tenho flexibilidade no meu horário de trabalho, eu podia ter pedido para ficar com ele, mas não pedi, eu não sei porquê eu não pedi, não sei porque eu fiz isso.”
“Eu tive uma infecção no final da gravidez e tive que tomar antibióticos, não pude amamentar logo após tomar antibiótico, e quando eu pude, ela não quis mais mamar, eu me sentia tão culpada, eu queria que ela mamasse, aquilo era muito importante para mim, eu me sentia tão culpada por não conseguir, eu me sentia tão culpada por uma coisa que eu não tinha culpa.”
“Eu morro de medo de errar, eu não quero abrir mão do meu trabalho, mas não quero perder nada da minha filha, fico com medo de não ser uma mãe boa suficiente.”
“A gente vai errar.”

Esta conversa poderia ter acontecido em muitas casas pelo mundo, nas mais diversas línguas. Entretanto, aconteceu em um programa de televisão, entre duas grandes atrizes, ambas com uma carreira sólida, ambas pessoas com uma vida, para nós que olhamos de fora, tranquila, com babás, empregadas e toda a tecnologia que julgamos necessárias para um bebê. No programa, um talk show em que a apresentadora Tatá Werneck, grávida, conversa com Tais Araújo sobre os medos da maternidade.
Que mãe, ou futura mãe, não tem medo de errar? Que mãe, ou futura mãe, não se culpa por querer manter sua carreira, ou ter que deixar seus filhos em algum lugar para poder trabalhar? Será que viemos prontas para sermos mães?
No programa, Tais Araújo conta da dificuldade que teve com a segunda filha, poderíamos nos perguntar: Ué, mas no segundo filho não é mais fácil? Será que sempre haverão dúvidas?
A culpa materna
Vir à ser mãe nunca é fácil, e nunca foi fácil. Por isso, as angústias em torno da maternidade também não são méritos dos nossos tempos, já em 1940 Donald Winnnicott, um pediatra e psicanalista inglês, tinha um programa de rádio para auxiliar as mães na angustias e dúvidas da maternidade.
“Cada vez que nasce um bebê, nasce uma mãe” *, tão imperfeita e assustada quanto o próprio neném que acaba de nascer. Intercorrências e alegrias no parto, no puerpério, na própria gestação vão adicionando os temperos desta nova relação.
Como conciliar maternidade, carreira, vida conjugal, ambições e/ou tantas outras necessidades/desejos que a mulher/mãe deseja ter?
Hoje cada mãe tem um infinito de informações, pediatra, psicólogos, pedagogos, blogs, instagram, livros e muito mais que “auxiliam” na busca desta “perfeição” E o que vemos é que isto só tem aumentado suas angústias, pois o que foi lido em um site pode estar contradito na próxima página de internet.
Tatá e Tais usam a expressão ser boa o suficiente questionando se seriam mães boas suficientes. Winnicott usa suficientemente boa, no seu contato com tantas mães e bebês ele foi descobrindo que uma mãe não pode ser perfeita, o bebê cresce também com os “erros” da sua mãe.
Ao cometer pequenos erros ficamos conectados aos nossos filhos, a uma realidade onde ele descobre a imperfeição de sua mãe e a sua própria. Estar conectada com seu filho é por vezes decepcioná-lo, é por vezes, deixá-lo se vendo com suas limitações, é se permitir viver e sentir prazeres e tristezas daquele momento.
Quando Tatá, Tais, Winnicott nos dizem que podemos errar, também nos descobrimos mães por vir, mães em constante mudança. Cada fase é uma nova criança, cada fase uma nova mãe. Se conhecer, permitir conhecer seu filho, é uma das formas de poder se perdoar nos erros.
Como diminuir a culpa

Informações, trocas de ideias, de experiências, desabafos ajudam na construção desta mãe que você que ser. Você é a pessoa que melhor conhece seu bebê, mas você não conhecerá ele se não deixar conhecer, diminua as cobranças, a ansiedade, o tempo vai ajudando vocês.
E caso você tenha medo de errar como mãe e sinta que esta cobrança está saindo do seu controle, não hesite em procurar um psicólogo, ele poderá ajudar você a encontrar a mãe que há em você. Pois como disseram Tatá, Taís, Winnicott e tantos outros, nós iremos errar!
* Winnicott, D.
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